terça-feira, 3 de maio de 2011


Meus juízes, meus carrascos, meus extravios e extraviados

 
Nunca precisei matar ninguém. Não falo de vontades e repentinos segundos de insanidade, psicológica ou narcísica. Isso já é outra coisa! Falo de razão de verdade, o que, de cara, revela:
Eu nunca matei ninguém! Mas sequer precisei fazê-lo para que juízes e carrascos corressem atrás de mim. E foram tantos! Em cada novo momento, um juiz diferente e um carrasco dessemelhante do anterior. Uns, baixos e agressivos; outros, altos e frios, congelantes. Todos novos, enfim! Não tão novos assim, mas estrategicamente distintos. E eu permaneço tão calada...
Nossas origens são carrascos e juízes ao mesmo tempo. Negam a realidade e, para provar a razão posta à prova, esmurram a tão famosa ponta da faca da emoção, do tradicionalismo e da moral de não sei o quê. Consequentemente, feliz e infelizmente, sangram. Felizmente porque tornam-se cientes do fato. Infelizmente (Infelizes Mentes!) porque o mesmo fato lhes fugiu à expectativa e muito provavelmente voltará a ser negado.
Já tentei deixar-me ser moldada. Mas a infância dos meus dias morreu rapidamente. Gritei, calei, perdi e pedi razão e, noutras vezes, fui tão “emoção”, sempre quando quis, nunca quando exigiram de mim.
Hoje, ela sangrou, mas eu não poderia negar os velhos (e novos) juízes e carrascos tão saídos de mim. Foram tantos os imorais também, tantos os extraviados, os inimigos do povo, patifes... Negar isso tudo seria negar a mim! Todo homem revoltado é consciente de seus direitos, afinal (CAMUS, 2003) [1]. E eu estava tanto que via a homérica epilepsia do (meu) corpo apaixonado, da mente germinada, da qual brotavam, como em André, delírios e desatinos nascidos do negado (e "perigoso"!) universo das paixões.
Não estou mencionando a simples paixão: troca de olhares, desejos e sentidos num objeto... Mas a paixão narcísica, do caos e esplendor do individualismo que grita de mim: a paixão do que não é moral ou imoral, mas do nirvana de encontrar a mim e nunca mais querer me largar.
           
         [1] CAMUS, A. O homem revoltado. Trad. Valérie Rumjanek. Rio de Janeiro: Record, 2003.

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