Noite sem fim
O
reencontro com velhas palavras traz memórias de (talvez) velhos sentimentos.
Dessa vez, foram as palavras sobre a lua carrasca e as esmagadas flores de
lótus do conto do marginal Lovecraft. E as memórias foram aquelas que cerraram
uma conversa sobre crise existencial... No meio de um vacilo de incoerentes
ideias, experimentamos a companhia um do outro, mas não foi nessa mesma
conversa que a nossa fuga aconteceu.
Estamos
hoje onde “túrgidos vermes devoram os mortos do mundo”. Se estamos mortos, é o
que nos resta saber. Se estamos também sendo devorados por vermes, essa é a
dúvida. Mas, de alguma maneira, existe a sensação de que algo foi devorado em
nós. E a morte existe quando lembramos que era um de nós dois a lua carrasca,
que, de forma macabra, perseguia o vacilante na vaga margem de um rio; e que
era o outro quem corria esmagando rostos em lótus que desciam num redemoinho.
Por
fim, foi provando a companhia um do outro que nos descobrimos extraviados do
que achávamos que tínhamos e desejosos por sangrar no outro algum rosto em
lótus que passou despercebido. Foi assim que, mutuamente, passamos a sentir
como se algo nos corroesse e como se, no fundo, estivéssemos mortos. Talvez
sejamos o verme e o morto um do outro, simultaneamente.