segunda-feira, 25 de julho de 2011

“Você sabia que havia um Lobo nesse Homem”


Eu sempre soube do Homem nesse Lobo também.
Nenhum lobo passa por cordeiro. Nem por Homem.
E nenhum homem que se quer lobo in natura pode sê-lo.
Sempre soube que havia um lobo nesse homem.
E é esse homem que o lobo faz Homem. E mais Lobo quando quer.
Não há retorno ao selvagem quando este jamais fora abandonado.
Então seja selvagem! Seja você. Mas não seja menos do que tem sido nem mais do que ao que tem se proposto.
Qualquer peso faz de um lobo uma presa. Ou do Homem, um deus.
Não seja presa. Não seja deus. Seja Homem. Seja Lobo. Seja Você.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

“Mais respeito que sou tua mãe, filho de uma puta!”




Ninguém mais sabe o que é “olhar para trás”. Respectus, palavra latina que deu origem à palavra Respeito, significa isso: olhar para trás. Hoje em dia, quase ninguém sabe o que é ou o que isso significa; e, pior, quase ninguém o merece.
Vivemos em um mundo de paixões líquidas, clepsídricas, frágeis, provisórias - já disse Bauman em Modernidade Líquida -, onde respeitar é somente mais uma questão de conveniência... E temporária! Respeitar não é mais uma questão de dever ou de direito... A liberté mal fadada se refugiou no subterrâneo e, de lá, dissimula inverdades que fazem as pessoas acharem que o Respeito é uma negação da liberdade individual. E pode até ser, sabia?
Conheço uma frase do Voltaire que diz: "Aos vivos, deve-se o respeito. Aos mortos, apenas a verdade". O que se pode ler daqui é que Respeito e Verdade foram colocados como opostos, como se “olhar para trás” significasse negar a realidade do que está diante dos olhos. Por isso, segundo o francês doidão, os mortos poderiam “saber” e “ouvir” o que não puderam quando eram vivos.
Respeito seria [ou foi], portanto, uma farsa que nos serve [ou serviu] de consolo. E parece que sequer sabemos consolar” agora, nem aos outros nem a nós mesmos.
Somos nada! Nem a língua nos une mais, nem ela é respeitada... Ouviu, Kafka?
Somos nada. Não sabemos “olhar para trás” nem somos dignos de que o façam por nós. Mas bem que poderíamos reaprender o consolo, não é, mãe? 


P.S.: Essa mãe é você, que pede respeito e chama a si mesma de puta na hora do pedido. Vai entender...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

 Ser ou não ser: Eis a questão!



Não! Androginia não surgiu na década de 70, com David Bowie e outras personalidades marcantes do Rock nem na década de 90 com a “transgressão” da moda nem nos nossos dias com o “Papai, não sei o que quero comer!” de alguns Emos com spikes e muito glitter.
Em O Banquete, de Platão [1], Aristófanes relata o surgimento dos diferentes sexos; e o Androgynos (Andro – Homem – e Gynos – Mulher) seria uma criatura mítica proto-humana metade homem, metade mulher, que foi separado devido a um conflito com os deuses. Em corpos diferentes, as duas criaturas a partir de então buscariam a outra metade de sua alma, que estaria em sua outra metade, de sexo oposto. Uma – no mínimo – interessante estória para se explicar a origem da Heterossexualidade e o sentimentalismo contido na ideia de “Almas Gêmeas”, que, pela lógica, não deveria ter esse nome. Mas isso é outra história.
Então... Na Antiguidade Clássica, como o fez Platão, por exemplo, falava-se a respeito de Homossexuais (Nas figuras de Andros e Gynos) e dos Heterossexuais (Na figura das metades separadas do Androgynos); e, portanto, da existência de três sexos, não de dois, como atualmente. Contudo, Androginia, considerando a psicologia de Carlos Jung e os estudos de Carlos Dugos, seria muito mais a unidade absoluta do ser integral do que uma apelação ao conceito de ser feminino e ser masculino fundidos.
Todos teriam, sendo assim, uma “essência” masculina e outra feminina, às quais Jung (1997) [2] nomeou Ânimus e Ânima, respectivamente. Logo, Androginia seria uma condição física e psíquica de um indivíduo que não se identifica como macho nem como fêmea, mas como um híbrido, que estaria longe de ser associado a um Homossexual ou Transexual, já que o termo não estabeleceria vínculos tão intensos com sexualidade.
Mas como atualmente as coisas são outras, como temos quase sempre “cópias distorcidas do real”, é muito difícil encontrarmos Andróginos reais, embora se fale na existência de uns tantos mil por aí.
Carlos Dugos, em seu ensaio Androginia, Hermafroditismo e a Hibridação Social dos Sexos, datado de 2001, relata que as condições sociais e até econômicas dos nossos dias contribuem com uma perda de identidade do ser feminino e do masculino. Sob o postulado igualitário a que aspiram Homens e Mulheres hodiernos, aparece a uniformização dos indivíduos, “independentemente dos seus sexos, estabelecendo um código de direitos e deveres que a todos abrange e que, sob pretexto de uma dignificação coletiva, escamoteia a dignidade intrínseca de cada sexo” (DUGOS, 2001) [3]. Segundo o estudioso:

A anulação sistemática das diferenças em nome de uma igualdade uniformizante, cuja veracidade e oportunidade carecem ser provadas pela própria natureza das coisas, conduz, a médio ou longo prazo, à morte do fascínio pela diferença, impulso ancestral do amor e do conhecimento. A manipulação genética, que prescinde do amor, mesmo que meramente erótico, para a formação do novo ser, prepara o momento em que o mais respeitado e cantado dos sentimentos humanos será entendido como uma abstracção mitológica, absolutamente inútil para a conservação da espécie (DUGOS, 2001) [3].


Não é à toa que se encontre comumente nas mais diversas mídias apelos como “Androginia está em alta. Veja como apostar na tendência.”. Não é à toa que, ao sairmos por aí, mesmo que “de bobeira”, seja tão fácil encontrar um projeto de Humanóide caracterizado de forma a que jamais arrisquemos dizer se tratar de um homem ou de uma mulher. Não será sem explicação encontrarmos cada vez mais, partindo das passarelas, rapazinhos amarrando seus pintos por alguns dólares e título de “Exótico”. E absolutamente “compreensível” vir algumas mocinhas engravatadas, com seu novo corte moicano, cara de mau e a boa “Deixei meu pinto em casa hoje.” para conquistar um garoto – seu semelhante – numa balada de sábado à noite.
Viva a vida social da Pós-Modernidade! Viva a total perda de identidade em nome de uma ilusão de Liberdade!


[1] PLATÃO. O Banquete. Lisboa: Edições 70, 1991.
[2] JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977.
[3] DUGOS, Carlos. Androginia, Hermafroditismo e a Hibridação Social dos Sexos. 2001. Disponível em: http://www.triplov.com/alquimias/alq01dug.htm. Acesso em: 04 jul. 2011.