Não vêm de longe essas perguntas que atormentam;
vêm de há muito e daqui do lado, dessa abertura monstruosa neste peito
consumido. Quem achar o sopro sobrenatural um equívoco é porque ainda não sabe
que a obscuridade é a principal marca de nossa origem. Como já disse Hermann
Hesse, outrora, proviemos do mesmo abismo. E é para o mesmo fim que caminhamos.
Esta terra amassada pelos meus pés e mãos jaz no
meu suor. Este céu azul e branco é capturado e aprisionado e eternizado num
flash de olhos cansados que não desistem. Este odor de almoço servido, pronto, fácil, apodrecerá. Repudiamos o
acre, mas salivamos com a lembrança do nosso paladar desdenhoso e falso.
Só não conscientizamos a origem, porcos que somos, reles que estamos. É o nosso mistério a encandear-se, a desdobrar-se, a
transfigurar-se, a suicidar-se e a refazer-se, sempre novo, sempre possesso.
Não vêm de longe, vêm de há muito, essas perguntas
que atormentam...
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