terça-feira, 15 de novembro de 2011



Não vêm de longe essas perguntas que atormentam; vêm de há muito e daqui do lado, dessa abertura monstruosa neste peito consumido. Quem achar o sopro sobrenatural um equívoco é porque ainda não sabe que a obscuridade é a principal marca de nossa origem. Como já disse Hermann Hesse, outrora, proviemos do mesmo abismo. E é para o mesmo fim que caminhamos.
Esta terra amassada pelos meus pés e mãos jaz no meu suor. Este céu azul e branco é capturado e aprisionado e eternizado num flash de olhos cansados que não desistem. Este odor de almoço servido, pronto, fácil, apodrecerá. Repudiamos o acre, mas salivamos com a lembrança do nosso paladar desdenhoso e falso.
Só não conscientizamos a origem, porcos que somos, reles que estamos. É o nosso mistério a encandear-se, a desdobrar-se, a transfigurar-se, a suicidar-se e a refazer-se, sempre novo, sempre possesso.
Não vêm de longe, vêm de há muito, essas perguntas que atormentam...

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