O Orgulho
e a Vaidade
Para Fernando Pessoa, o
orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito, enquanto a
vaidade é a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Segundo o gênio português, um
homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso; pode ser ambas as coisas,
simultaneamente; e pode ser vaidoso sem ser orgulhoso.
Parece meio incompreensível
encarar alguém que seja vaidoso sem ser orgulhoso, ou seja, alguém que tenha
consciência de que o outro sabe de seu mérito enquanto ele mesmo não o sabe. Mas
Pessoa explica isso dizendo que vivemos duas vidas: uma exterior e uma interior
e que estaria aí a explicação.
A vida exterior é aquela
vivida para causar efeito sobre o outro e, por ser vivida primeiro, permite-nos
dizer que causar efeito em outrem seria quase sempre a base de todos os princípios
do homem, uma vez que este vive ou quer viver, em princípio, o efeito que causa no outro e, apenas
tardiamente (na vida interior), a causa desse efeito. Na vida exterior, o
efeito é tomado como a causa interior
desse efeito, estando o homem, pois, nesta vida, vivendo sob uma inverdade,
propositalmente ou não.
Por viverem,
desde o princípio, sob a preocupação com o outro, ainda que algumas estejam
vivendo a vida interior, as pessoas ainda têm refletindo, nos seus
comportamentos e ideias, a vida exterior, que subsiste na busca de ver que os
outros reconhecem seus méritos, verdadeiros ou forjados. É a vaidade em ação.
Vivemos
atualmente um momento que exalta intensamente a vaidade, quase intrínseca à
natureza humana. E eu não recorro à moda ou à estética exclusivamente para
apontar isso, mas ao fato de essas duas coisas mais o status sócio-financeiro
serem usados como ambições pessoais
a definirem também quem é gente e quem não é.
É a
vaidade, Fábio, nessa vida [1]...
[1] Referência ao poema "É a vaidade, Fábio, nesta vida", de Gregório de Mattos Guerra.
Gostei me fez pensar em certas coisas ..
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