sábado, 1 de outubro de 2011


O Orgulho e a Vaidade


Para Fernando Pessoa, o orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito, enquanto a vaidade é a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Segundo o gênio português, um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso; pode ser ambas as coisas, simultaneamente; e pode ser vaidoso sem ser orgulhoso.
Parece meio incompreensível encarar alguém que seja vaidoso sem ser orgulhoso, ou seja, alguém que tenha consciência de que o outro sabe de seu mérito enquanto ele mesmo não o sabe. Mas Pessoa explica isso dizendo que vivemos duas vidas: uma exterior e uma interior e que estaria aí a explicação.
A vida exterior é aquela vivida para causar efeito sobre o outro e, por ser vivida primeiro, permite-nos dizer que causar efeito em outrem seria quase sempre a base de todos os princípios do homem, uma vez que este vive ou quer viver, em princípio, o efeito que causa no outro e, apenas tardiamente (na vida interior), a causa desse efeito. Na vida exterior, o efeito é tomado como a causa interior desse efeito, estando o homem, pois, nesta vida, vivendo sob uma inverdade, propositalmente ou não.
Por viverem, desde o princípio, sob a preocupação com o outro, ainda que algumas estejam vivendo a vida interior, as pessoas ainda têm refletindo, nos seus comportamentos e ideias, a vida exterior, que subsiste na busca de ver que os outros reconhecem seus méritos, verdadeiros ou forjados. É a vaidade em ação.
Vivemos atualmente um momento que exalta intensamente a vaidade, quase intrínseca à natureza humana. E eu não recorro à moda ou à estética exclusivamente para apontar isso, mas ao fato de essas duas coisas mais o status sócio-financeiro serem usados como ambições pessoais a definirem também quem é gente e quem não é.

É a vaidade, Fábio, nessa vida [1]...


[1] Referência ao poema "É a vaidade, Fábio, nesta vida", de Gregório de Mattos Guerra.  

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