quinta-feira, 6 de outubro de 2011

“Bruta flor do querer”


 Um dia, sem querer, por acaso, e estão desfeitos nossos velhos conceitos.
Sem a mais justa adequação, sem Sim e estando ausente também o Não, ficamos com o Talvez e com a única certeza de que o Incerto é o que move montanhas.
No que queriam Vida, demos Morte. No que queriam Amor, demos as costas. Quando quiseram Martírio, servimos Coragem. Quando exigiram Persistência, Covardia.
Estamos sempre a milhas da flor bruta do querer, flor amarela e selvagem. Porque também o somos: ... amarelos e selvagens.
Ou selvagens e amarelos... E ainda rubros e brandos. Estamos sempre a milhas de saciar nossa fome e de dar de beber a quem tem sede de nós numa caixa de música. Porque nossa fome é infinita e a tal caixa é pequena demais para nossas dores e desequilíbrios, por isso dançamos fora dela. Nada presumido ou pressuposto. Tudo em entrelinhas que libertam sempre o Sempre de nosso não quando da exigência do Sim.
Apenas crianças levadas, mal-criadas, a sonegarem licença para o vovô. Apenas velhos rabujentos que sentem prazer ao atrapalharem o programa dos netos jovens. Apenas filhos envergonhando a mãe na fila do consultório. Apenas a vaidade de mostrar a perfeição em um rosto feio depois de uma queda de bicicleta. Apenas as penas que há em sequer sabermos quem somos. Tudo há muito misturado para definir geração...
Se querem firmeza, saudade. Se querem saudade, indiferença. Se querem brilho, opaco. Se exigem compromisso, desleixo. Não damos o que nos pedem. Somos apenas o desequilíbrio e o avesso do que queremos ser.

2 comentários:

  1. "Ah! Bruta flor do querer..." Bela canção.
    Obrigado por mais um texto que vale apena ler.
    Mas não acha que isso tudo é o que nos torna imprevisíveis e, de certa forma interessantes para alguns?

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  2. Obrigada você pela visita e por mais um comentário interessante...
    Bom, a imprevisibilidade nisso tudo é algo certo. Mas o "interessante"... Quanto a isso, nada sei dizer, não sei responder a sua pergunta. Acho que depende do ponto de vista.

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