Blankness
Tudo
quanto somos é feito do vazio ensimesmado que nos dá forma.
Percorremos limites e corremos pelo desconhecido. E o que são o limite e o
desconhecido senão um vazio que queremos preencher?
Tudo quanto há de resposta
que buscamos está em nós. Apenas não buscamos formas de ouvir, porque há muito
ficamos surdos. Apenas não enxergamos, porque o espelho de nossos dias embaçou
na manhã mais fria do ano: aquela em que nos perdemos de novo para nunca
mais...
Somos criadores, não apenas
criaturas; e vivemos de moldar verdades e de nos perder, porque somos
demasiadamente desconhecidos para nós mesmos e, sobretudo, para os outros.
Somos o nosso próprio limite e o vazio sobre o qual queremos falar. Não o
fazemos porque não sabemos. E, aos outros, somos nada mais que detalhes de sua
tosca sobrevivência. Pronunciamos apenas as ínfimas reminiscências das palavras
que aprendemos, mas que não sabem traduzir o que deveras nos incomoda.
Tudo
quanto nos dá forma é feito do vazio ensimesmado do que somos. E
toda palavra que há nas nossas tentativas de tradução pessoal são incoerências
do conflito que nos move.
P.S.: O conflito que nos move é o
que há do nosso Eu resoluto tombado naquele vazio, o da nossa ignorância sobre
o sentido de nossa estadia no inferno do que somos e para que viemos.
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