segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Noite sem fim



O reencontro com velhas palavras traz memórias de (talvez) velhos sentimentos. Dessa vez, foram as palavras sobre a lua carrasca e as esmagadas flores de lótus do conto do marginal Lovecraft. E as memórias foram aquelas que cerraram uma conversa sobre crise existencial... No meio de um vacilo de incoerentes ideias, experimentamos a companhia um do outro, mas não foi nessa mesma conversa que a nossa fuga aconteceu.
Estamos hoje onde “túrgidos vermes devoram os mortos do mundo”. Se estamos mortos, é o que nos resta saber. Se estamos também sendo devorados por vermes, essa é a dúvida. Mas, de alguma maneira, existe a sensação de que algo foi devorado em nós. E a morte existe quando lembramos que era um de nós dois a lua carrasca, que, de forma macabra, perseguia o vacilante na vaga margem de um rio; e que era o outro quem corria esmagando rostos em lótus que desciam num redemoinho.
Por fim, foi provando a companhia um do outro que nos descobrimos extraviados do que achávamos que tínhamos e desejosos por sangrar no outro algum rosto em lótus que passou despercebido. Foi assim que, mutuamente, passamos a sentir como se algo nos corroesse e como se, no fundo, estivéssemos mortos. Talvez sejamos o verme e o morto um do outro, simultaneamente.

2 comentários:

  1. Muito interessante o subjetivismo.. poesia linda.. interessante a descoberta de um com, ou através do outro... por analogia ousaria até levar para alem de uma morte pessoal a uma nível de morte cultural,
    do que vemos hoje, massificações...

    ResponderExcluir
  2. Obrigada pela visita, pelo comentário e pela percepção...

    ResponderExcluir