quinta-feira, 21 de abril de 2011


 Descobri-me uma puta imoral!




Ao mesmo tempo em que traça fronteiras e desenha mapas cognitivos, estéticos e morais, a sociedade converte em estranhos os que a ela não se adequam (BAUMAN, 1998)  [1]. Por isso, durante muito tempo, tivemos submerso nesse processo civilizatório um homem constituído na renúncia ao instinto individual (FREUD, 1930) [2] e focado naquilo que Nietzsche (2001) [3] chamou de instinto de rebanho no indivíduo, visando sempre o bem coletivo, o bem para a sociedade.
Em sua versão pós-moderna, a modernidade, segundo Bauman (1998), encontrou sua pedra filosofal a partir do demasiadamente humano reclamo do prazer, que tolera uma segurança individual pequena demais. Temos, pois, na contemporaneidade, um novo perfil humano que cria (e isso lhe cabe muito bem!) novas formas de lidar com e nas relações interpessoais.


Como?
O que eu disse mesmo?
Em outras palavras: A sociedade criou padrões tão “porcos” de sobrevivência hipócrita que, durante muito tempo, todos aqueles que não seguiam seus ditames eram marginalizados, acusados de imorais,  loucos ou sei lá o que. Seguindo regras, as pessoas tendiam à obediência à mesma coisa e acabavam comprando as mesmas brigas, falando e agindo da mesma forma, renunciando ao que realmente queriam fazer em nome de uma moral sem moral.
Olhando para isso, acabei de ver: Eu escrevi que as coisas eram de um jeito e que, nos nossos dias, são de outro. Ora, ora, como se hoje as coisas realmente tivessem mudado. E o pior é que eu disse que elas mudaram no meu Trabalho de Conclusão de Curso, para o qual estudei sobre uma tal “Pós-modernidade”. E ninguém viu! Talvez eu tenha errado lá, ou tudo esteja errado de fato, mas, de FATO, nada evoluiu da forma como eu afirmei.
Hoje, podemos ter um grito de liberdade mais disfarçado. Aêêê! O negro se acomoda na poltrona de um branco filho da puta que lhe roubou seu posto por direito durante séculos. A mulher bate revoltada na cara de um macho retardado e lhe diz que quem banca e banca na casa é ela agora. O homossexual consegue e briga pelo direito de chegar ao pai, ao trabalho e à escola falando de sua OPÇÃO sexual ou que foi “comido” pelo colega de mesmo sexo, curtiu e que quer virar “homo” a partir dali. Além disso, todos pregam suas verdades e, como diz um texto que li outro dia, mas não lembro de quem, nenhuma delas se deixa dominar. Vê lá, né?!  Parece que as coisas são bem diferentes no meu século.
Diferentes?! “Os cambaus”! Nada dessa PORCARIA a que chamamos “vida social” mudou! Todos fazem a mesma coisa; dizem as mesmas “lorotas” sem sentido; compram as mesmas coisas que ficarão mofando nos armários ou servirão de letreiro para o “Venha até a mim. Sou legal!”; beijam sem vontade do mesmo jeito; “trepam” só para satisfazerem aquele quê de animal que o ser humano tem em si e ao qual faz questão de dar “moral”; etc. Ninguém quer ou pode satisfazer suas vontades racionais, conscientes, porque (Vejam só!) são “conscientes” de que as consequências da desobediência à tentaculosa “vida social” são rígidas.
E, nos bastidores, temos: aquele negro que posa de “fodão”, bota banca e só contrata negros para os encargos de responsabilidade da empresa que ele comanda. A mulher que perde sua feminilidade, quer produzir filhos à moda “independente”, quer ter três peitos (Ah, Ângela Bis... Bis o que? Que se dane!), age como vadia e, não sei por que, frustrada, diz que os homens não prestam. O homossexual que “pinta” de corajoso, de real merecedor do ouro capitalista e da nova bolsa (A de Inclusão da população LGBT) do Governo Made in Lula (Opa! É Dilma agora... Dá no mesmo!) porque consegue lutar contra o preconceito. O pobre também merece, então! A mulher também! Eu também, ué! Ou não?!
“Segurança individual pequena demais”!
Então: Mudamos, não é? Não! Tudo permanece da mesma forma. Os sujeitos mudaram e o “ao que obedecer” também mudou. Mas as coisas acontecem de igual modo.
Todos seguem uma modinha (A do seu egoísmo sádico). Vai ver, Moral é isso: Modinha. “Dar moral” não seria “dar margem a algo”, ou “aceitar alguma coisa”? Então! Logo, imoral, hoje, deve ser o sujeito que não compra o carro do ano; a mulher que casa por amor ou abdica de trabalhar fora para zelar pela educação dos filhos; o carinha que não trai a namorada (ou namorado); o profissional que é “o cara” mas não humilha quem não é; aquele que diz o que pensa; o adolescente que não tira fotografia com o dedo no nariz, óculos coloridos e sem lente, calça colorida e não é assexuado; etc. e o DIABO!
É daí que vêm os vários produtos desse laboratório social, passados por lavagens cerebrais diárias. Os que não resistem à “quimioSÓCIOterapia” piram, coitados, são os fraquinhos, são as frutas podres da cesta, os biscoitos quebrados do pacote de proezas! Os imorais!
RÁ! Descobri-me uma puta imoral!



[1] BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução: Mauro Gama e Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
[2]  FREUD, S. Mal estar na civilização. Trad. J. O. A. Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1930.
[3] NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. Trad. Paulo Cézar Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.


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